Um simples convite para uma roda de conversa se tornou um evento para mais de 120 pessoas no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na manhã de ontem. Em pauta, a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) na população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). Mas, mais do que falar sobre métodos, o evento pretendia quebrar tabus e falar abertamente sobre o tema.
Segundo a professora Melissa Medeiros Braz, coordenadora da Liga de Saúde da Mulher do Centro de Ciências da Saúde (CCS), a ideia surgiu da demanda de uma acadêmica e da constatação de que a formação sobre o assunto é deficiente.
– Aprendemos a prevenir infecções sexualmente transmissíveis, predominantemente, na população heterossexual, e a população LGBT fica descoberta. Existe preconceito institucional e a formação fica carente nesse sentido. Não sabemos cuidar da população LGBT. Então, vimos a necessidade de fazer um evento para atender a essa demanda – disse a professora.
A estudante do curso de Medicina da UFSM Viviane Godinho Bessa, 21 anos, conta que as dúvidas surgem entre os colegas no ambiente acadêmico:
– Nos questionam sobre os termos usados, sobre formas de atendimento, sobre políticas que viabilizem maior relação entre o profissional da saúde e o paciente. Até romper esses estigmas, a gente fica sem saber como chegar no paciente para que ele se sinta à vontade. Começar pelos métodos preventivos é a melhor maneira para chamar a atenção tanto das pessoas dentro do CCS, quanto dos que estão interessadas ao tema, como a população LGBT.
A professora Melissa lembra que, além do desconhecimento, o preconceito do profissional de saúde cria uma série de barreiras ao atendimento. Viviane complementa reforçando que existe muito tabu na área da saúde em relação aos métodos preventivos:
– As pessoas falam: “é tudo igual”. Mas, não é igual. Muitas pessoas não conhecem os métodos em uma relação homoafetiva entre mulheres. E isso pode ser alvo de desenvolvimento de pesquisas.
– Basta pensar como o vírus da Aids é transmitido. Por exemplo: sangue, secreção vaginal, esperma e leite materno. Então é simples: não compartilhar seringas, usar sempre o preservativo e as gestantes realizarem um bom pré-natal, pois, em caso positivo, já podem fazer o tratamento durante a gravidez, evitando, dessa forma, que o bebê seja infectado. Caso a mãe descubra que é HIV positivo apenas na hora do parto, ela será orientada para não amamentar o bebê. Simples? Infelizmente não. O tema ainda é revestido de tabus e preconceitos. Há sempre uma tendência de não falarmos sobre o tema, jogarmos embaixo do tapete. Por isso, a proposta de “falar abertamente sobre ISTs” – disse Martha.
DEBATE CONSTANTE
De acordo com Martha, muitas pessoas ainda supõem que entre os LGBTs o risco de contrair uma IST seria maior, o que não é verdade.
– O preconceito já vem junto, entende? Não podemos retroceder na história. A Aids surgiu na década de 80 em meio à polêmica de apenas os gays, hemofílicos e profissionais do sexo se infectavam. Hoje se sabe que a Aids acomete idosos, mulheres e homens heterossexuais, crianças, etc. Ou seja, é o vírus da imunodeficiência humana. E humanos, somos todos nós. Portanto, a Aids não é a doença que só acomete “o outro”. Ela pode acontecer com qualquer pessoa que não se prevenir.
Martha mantém um fórum de debate na Unifra para tratar desse e de outros assuntos referentes à saúde, nas últimas quartas-feiras do mês, das 18h às 20h, na sala 407, do prédio 16. Ainda existe um projeto para a criação de um blog para perguntas e respostas, mas ainda não foi ao ar.