O turismo LGBTI+ segue em expansão no cenário internacional, e a recente promoção de Leandro Aragonez como diretor de Engajamento no departamento de Parcerias Globais Estratégicas da Associação Internacional de Turismo LGBTQ+ (IGLTA) evidencia essa crescente importância. Com uma carreira robusta e diversificada que abrange múltiplos continentes, Aragonez, nascido em São Paulo e criado no Rio de Janeiro, reforça a presença brasileira em uma das organizações mais influentes de turismo inclusivo no mundo.
A trajetória de Aragonez, com mais de 18 anos de experiência em Marketing, Gestão de Projetos e Turismo, destaca sua liderança em mercados como Nova York, Chicago, Espanha, Marrocos e Angola. Com passagens por empresas como Nestlé e CVC Corp, Aragonez liderou campanhas internacionais e representou a Embratur nos EUA e Canadá pela Promo Marketing Inteligente. Como consultor para o Ministério do Turismo de Angola, ele une sua expertise em marketing à promoção de destinos inclusivos. Reconhecido pelo Prêmio de Sustentabilidade Braztoa, é formado em Administração e possui MBA em BI e Marketing Digital.
Em entrevista ao site da Câmara LGBT, Aragonez analisa o cenário atual do Turismo LGBTI+, destacando o papel crescente do Brasil nesse segmento. Ele aborda os desafios enfrentados pelo setor e ressalta a importância de entidades como a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil e a IGLTA na promoção de um turismo mais inclusivo e seguro. Confira a entrevista completa:
Câmara LGBT: Como você enxerga o atual panorama do turismo LGBTI+ no Brasil?
Aragonez: O Brasil é internacionalmente reconhecido por sua riqueza natural, diversidade cultural e por sediar eventos emblemáticos da comunidade LGBTI+, como a Parada do Orgulho de São Paulo, a maior do mundo. Essa visibilidade inclui o Brasil no mapa do turismo LGBTI+ gerando um “efeito cascata”, fomentando o desenvolvimento de novos produtos e serviços voltados para esse público.
O impacto econômico do turismo LGBTI+ no Brasil é significativo, gerando mais de USD 20 bilhões, representando mais de 10% do mercado global, com um faturamento superior ao de grandes empresas como a Ambev. Mas, apesar das grandes oportunidades econômicas, enfrentamos desafios sociais que precisam ser superados com urgência.
Câmara LGBT: Quais são os principais desafios que o país enfrenta para se consolidar como um destino inclusivo e seguro para essa comunidade?
Aragonez: A desigualdade é a raiz dos problemas sociais no Brasil. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, o Brasil está entre os países mais desiguais do mundo, o que agrava questões como discriminação e violência. Entre 2000 e 2023, mais de 5.865 pessoas LGBTI+ foram mortas no Brasil devido à LGBTfobia, evidenciando a gravidade da violência estrutural e a necessidade urgente de políticas públicas eficazes de proteção.
A desigualdade afeta não só a comunidade LGBTI+ mas também mulheres, pessoas negras, pessoas trans, pessoas com deficiência, criando barreiras que amplificam preconceitos e discriminações. Lideranças como a deputada Erika Hilton têm sido fundamentais na luta contra essa violência, promovendo políticas públicas e legislativas que visam garantir mais segurança e direitos para a população LGBTI+
Outro desafio significativo é o acesso à educação e a falta de capacitação no setor de turismo. Iniciativas da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil e da IGLTA têm sido essenciais para educar o setor e criar um ambiente mais inclusivo e seguro para os turistas.
Acredito firmemente que o turismo tem o poder de ser um motor de transformação social, gerando empregos, atraindo investimentos e promovendo a inclusão. Dessa forma, o Brasil pode se consolidar como um destino mais seguro e acolhedor, beneficiando tanto os turistas quanto a população local.
Câmara LGBT: Que tipo de ações práticas são necessárias para garantir a segurança e a inclusão de turistas LGBTI+ no Brasil?
Aragonez: Para consolidar o Brasil como um destino inclusivo, é fundamental enfrentar a raiz dos problemas. Iniciativas como o Grupo de Trabalho de Memória e Verdade das Pessoas LGBTQIA+, liderado por Renan Quinalha, que investiga a violência histórica contra a comunidade, são essenciais para a criação de políticas públicas eficazes. Programas como o Empodera+ e o Acolher+, também do Ministério dos Direitos Humanos, são outros exemplos de iniciativas que promovem inclusão e dignidade, criando ambientes mais acolhedores e seguros.
Capacitar os profissionais do setor turístico é essencial para transformar o atendimento e a experiência dos turistas LGBTI+ Além disso, investir em infraestrutura de acessibilidade e segurança é fundamental para garantir que o Brasil seja visto como um destino acolhedor.
O diálogo contínuo entre destinos turísticos e empresas do setor, com foco em segurança e inclusão, também contribui para consolidar o Brasil como um destino de referência para o turismo LGBTI+
Câmara LGBT: De que maneira o impacto econômico do turismo LGBTI+ pode beneficiar outras áreas da economia brasileira?
Aragonez: O turismo LGBTI+ movimenta uma cadeia produtiva extensa que vai muito além de viagens e hospedagem. Ele gera empregos e renda em setores como cultura, tecnologia, comércio e serviços locais, além de impulsionar melhorias em infraestrutura e acessibilidade que beneficiam tanto os turistas quanto a população local. Ao nos posicionarmos como um destino inclusivo, aumentamos nossa visibilidade global, atraindo novos negócios e investimentos internacionais, promovendo um ciclo de crescimento econômico que afeta positivamente diversas áreas.
Em 2023, o turismo LGBTI+ global movimentou $211 bilhões, e as projeções indicam que esse mercado ultrapassará $600 bilhões até 2031. Ao ampliar nossa participação nesse mercado e atrair novos negócios, a economia local se beneficia diretamente, fortalecendo a cadeia produtiva do turismo e outros setores.
Por meio de colaborações com entidades como a Embratur, sob a gestão de Marcelo Freixo, e com iniciativas dos departamentos de Marketing Internacional, liderado por Bruno Reis, e de Inteligência de Dados e Competitividade, sob liderança do Fábio Montanheiro, podemos expandir ainda mais o impacto desse segmento, beneficiando a economia local de maneira sustentável.
Câmara LGBT: Globalmente, como a IGLTA e seus parceiros enfrentam desafios semelhantes?
Aragonez: A IGLTA atua em mais de 80 países, incluindo alguns onde a comunidade LGBTI+ ainda enfrenta criminalização. Nosso Presidente e CEO, John Tanzella, sempre defende que a inclusão se constrói com diálogo, não com boicotes, e essa abordagem é essencial para garantir mudanças positivas, até mesmo em contextos desafiadores. Promovemos o diálogo e a educação como ferramentas fundamentais para construir inclusão. Com a liderança de Clark Massad, Vice-Presidente de Parcerias Globais, baseado em Paris, e com o apoio de Antonella Benedetti, nossa Gerente de Engajamento baseada em Bogotá, continuamos fortalecendo as parcerias globais para promover segurança e inclusão.
Câmara LGBT: Quais são as principais estratégias que você pretende implementar na IGLTA para fortalecer o mercado de turismo LGBTI+ no Brasil, e como essas ações podem impactar a economia local e a visibilidade do país internacionalmente?
Aragonez: O Brasil é o segundo país com mais membros na IGLTA, resultado de muitos anos de trabalho do Clóvis Casemiro, Gerente de Membros da América do Sul.
Nossa estratégia para o país envolve continuar e expandir parcerias com órgãos públicos e privados, incluindo secretarias de turismo e a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil. Essas colaborações garantem que as melhores práticas internacionais de inclusão sejam adotadas, tornando os destinos brasileiros mais acolhedores e seguros.
Trabalhamos em estreita colaboração com a Embratur para promover o Brasil como destino LGBTI+ em mercados internacionais. A participação da Embratur na nossa Convenção anual, que esse ano será Osaka, Japão, é um exemplo de como essas parcerias fortalecem a imagem do Brasil no exterior.
Com o mercado de turismo LGBTI+ projetado para atingir USD 600 bilhões até 2031, essas iniciativas posicionam estrategicamente o Brasil para aproveitar esse crescimento, ampliando sua visibilidade global e gerando impacto econômico positivo.
Câmara LGBT: Qual a importância de entidades como a IGLTA e a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil na promoção de destinos brasileiros em mercados globais?
Aragonez: Tanto a IGLTA quanto a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil desempenham um papel crucial na promoção do Brasil como um destino inclusivo e seguro para a comunidade LGBTI+ Conectamos o Brasil a uma rede global de viajantes e empresas comprometidas com a diversidade, ampliando a visibilidade dos destinos brasileiros e contribuindo para o desenvolvimento econômico do país.
Eventos como a Conferência Internacional da Diversidade, organizada pela Câmara, e a Convenção Anual da IGLTA são exemplos de como promovemos o Brasil em mercados globais, reafirmando nosso compromisso com a inclusão e a diversidade. Esse trabalho conjunto com a Embratur e outras entidades fortalece o ambiente para o turismo, gerando impactos positivos na economia local e garantindo experiências positivas para os turistas.
Gostaria também de destacar o meu compromisso pessoal e profissional com a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil, além do respeito que tenho pelo presidente Ricardo Gomes. Juntos podemos continuar realizando um trabalho de impacto pela comunidade LGBTI+ focando na melhoria da qualidade de vida e na inclusão social. O trabalho conjunto entre a IGLTA e a Câmara permite que o Brasil continue avançando no turismo inclusivo e consciente, beneficiando tanto os turistas quanto a população brasileira.
Inspirador ver como Leandro aborda a inclusão social no turismo de maneira profunda e inteligente, e não de forma isolada, conectando a luta contra a desigualdade junto ao turismo e à comunidade LGBT, com políticas públicas e desenvolvimento social. Esse é o exemplo da nova liderança que realmente vai fazer a diferença para todos nós! Sucesso Leandro!!