O documentário Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil, do cineasta e jornalista Lufe Steffen, traça um panorama inédito e profundo sobre a trajetória dos veículos criados por e para a comunidade LGBTQIAPN+ no país. Com 110 minutos de duração, o filme revisita desde as primeiras iniciativas na década de 1960 até o presente, revelando a importância desses meios de comunicação para o fortalecimento da identidade, visibilidade e luta por direitos da comunidade. O lançamento do documentário acontece no dia 10/10, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
Lançado em 2024, o filme é fruto de uma pesquisa iniciada em 2020, em pleno isolamento da pandemia, quando Lufe Steffen mergulhou na história da imprensa LGBTQIAPN+. Essa investigação gerou inicialmente um vídeo para o canal do diretor no YouTube, mas se expandiu após o projeto vencer o edital do Programa de Ação Cultural de São Paulo (ProAC) em 2022. O reconhecimento proporcionou os recursos necessários para a produção do documentário, cujas filmagens ocorreram em 2023, e que agora estreia como uma obra de resgate histórico fundamental.
A linha do tempo da imprensa LGBTQIAPN+ no Brasil
O documentário apresenta uma cronologia dos veículos LGBTQIAPN+, começando com o mimeógrafo e as produções independentes dos anos 1960 e 1970. Publicações pioneiras como o fanzine O Snob, criado pelo pernambucano Agildo Guimarães, e o zine ChanacomChana, são destacados como símbolos de resistência em um Brasil ainda muito hostil à diversidade sexual. O filme também resgata episódios históricos, como a invasão do Ferro’s Bar, em 1983, quando ativistas lésbicas protestaram contra a censura do bar que impedia a venda do zine ChanacomChana.
Esses momentos marcam a consolidação da imprensa alternativa como um espaço de voz e expressão para a comunidade LGBTQIAPN+, enfrentando o machismo, a censura e a opressão. A partir dos anos 1990, o filme aborda a chegada das revistas Sui Generis e G Magazine, veículos que ampliaram o alcance do público LGBTQIAPN+ e trouxeram temas antes tabu para o centro do debate público. O período marca também a diversificação dos formatos e das plataformas, com a criação de portais como o Mix Brasil e a inclusão da pauta LGBTQIAPN+ nos grandes veículos de comunicação.
Vozes que fizeram história
Lufe Steffen reúne um elenco diverso de depoentes, que trazem à tona não apenas suas vivências, mas também a importância da imprensa na conquista de direitos. Figuras como o escritor João Silvério Trevisan, um dos fundadores do Lampião da Esquina, o sociólogo James Green e o jornalista André Fischer, fundador do Mix Brasil, contextualizam o papel dessas publicações em diferentes momentos da história LGBTQIAPN+ brasileira. A atriz Nany People, a editora Ana Fadigas e o ativista Renan Quinalha também compartilham suas perspectivas sobre a evolução das mídias voltadas para a comunidade.
Os depoimentos revelam que, além de registrar as lutas e conquistas, a imprensa LGBTQIAPN+ teve um papel essencial na construção de uma memória coletiva. Ela se tornou um instrumento de afirmação identitária, sendo um espaço de debate e acolhimento em tempos de repressão. Para Lufe Steffen, o filme é uma celebração desse legado: “Estamos falando de uma imprensa que foi fundamental para a formação de uma consciência coletiva LGBTQIAPN+, para a ocupação de espaços e para o questionamento das normas impostas pela sociedade”.
Dos fanzines ao digital: a transformação do jornalismo LGBTQIAPN+
O documentário não apenas revisita o passado, mas também observa as transformações na comunicação LGBTQIAPN+ com a chegada da internet. Portais como Mix Brasil, blogs e canais no YouTube ampliaram o acesso à informação e deram voz a novas gerações, mostrando que o jornalismo feito por e para a comunidade segue em constante evolução. Lufe Steffen, que iniciou sua trajetória no jornalismo trabalhando no Mix Brasil e em outros veículos, como a revista A Capa, traz para o filme a perspectiva de quem viveu de perto essa transição dos impressos para o digital.
O filme nos faz refletir sobre como a era da internet potencializou o alcance e a pluralidade de vozes dentro da comunidade. O surgimento de novos espaços online trouxe não apenas visibilidade, mas também a possibilidade de um diálogo global, conectando experiências locais a uma audiência mais ampla.
O legado de Lufe Steffen
Com uma carreira marcada pelo resgate da história LGBTQIAPN+, Lufe Steffen já havia trazido à tona a vida noturna paulistana com os documentários A Volta da Pauliceia Desvairada (2012) e São Paulo em Hi-Fi (2013/2016). Agora, com Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil, ele reafirma seu compromisso em preservar e contar as histórias da comunidade, em uma narrativa que mescla jornalismo e cinema de forma envolvente e didática. Paralelamente, Lufe lançou em 2023 seu primeiro longa de ficção, Nós Somos o Amanhã, um musical nostálgico que relembra suas memórias escolares dos anos 1980. Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil é mais do que um filme; é um documento essencial para entender a trajetória de uma imprensa que sempre foi, e continua sendo, um espaço de luta, resistência e transformação social no Brasil.
SERVIÇO
Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil
Documentário de Lufe Steffen
10/10, quinta-feira, às 20h
Cinemateca Brasileira
End.: Largo Senador Raul Cardoso, 57 – Vila Mariana
Entrada Franca