A terceira edição do Fórum de Diversidade, Equidade e Inclusão, promovida pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) e realizada em São Paulo no dia 10 de outubro, trouxe à tona discussões fundamentais sobre os desafios da inclusão em várias esferas da sociedade. Embora a conscientização sobre diversidade e igualdade tenha crescido, as questões que afetam profundamente minorias múltiplas, neurodivergentes, povos indígenas e pessoas trans ainda enfrentam barreiras substanciais. O evento examinou como o discurso público e as práticas privadas estão em descompasso, destacando iniciativas que oferecem visões e possíveis caminhos para uma sociedade mais inclusiva, tanto no Brasil quanto no Canadá.
Mulheres na Política e a Urgência de Igualdade
Um tema central do fórum foi a participação feminina na política. Irene Vida Gala, embaixadora do Brasil e subchefe do Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo, ressaltou o quanto as mulheres ainda são sub-representadas. Segundo Gala, as recentes eleições confirmaram uma redução alarmante de 55% no número de mulheres nas câmaras legislativas, um dado que expõe as barreiras estruturais e culturais enfrentadas.
“Esse é um escândalo”, pontuou Gala. “Os esforços públicos e privados estão interligados. Apenas através de políticas públicas robustas poderemos mudar o espaço privado, aquele que afeta as famílias diretamente. Empoderar a mulher não é apenas sobre representatividade, é uma questão de integridade física. Estamos falando de mulheres sendo mortas diariamente por feminicídio.”
Dados do Mapa da Violência 2021 mostram que o Brasil registrou, em média, 13 feminicídios por dia, um cenário ainda mais grave para mulheres trans, que além do machismo, enfrentam preconceitos ligados à identidade de gênero. Vicky Napolitano, líder em Pessoas e Cultura da Pismo, reforçou a responsabilidade coletiva que recai sobre as mulheres trans: “Nós, pessoas de grupos historicamente marginalizados, somos vistas como uma extensão de toda a comunidade. Especialmente como as primeiras a ocupar esses espaços, não temos o privilégio de errar.”
Neurodivergência e Inclusão Profissional
Outro ponto de destaque foi a inclusão neurodivergente, um tema cada vez mais discutido, mas ainda pouco praticado nas organizações. Rute Rodrigues, diretora de Operações da Specialisterne Brasil, chamou a atenção para as dificuldades enfrentadas por pessoas autistas e neurodivergentes que, muitas vezes, encontram processos de seleção excludentes, que priorizam habilidades sociais que podem não estar ao alcance de todos.
“A neurodiversidade nos lembra que nenhum cérebro é igual ao outro. Todos somos neurodiversos, com habilidades diferentes, e algumas pessoas estão mais distantes do padrão considerado típico. Ao falarmos de neurodiversidade, buscamos um modelo social de inclusão que reduza barreiras e promova o acesso”, explicou Rodrigues.
Etarismo e a Exclusão de Profissionais Acima dos 60 Anos
A exclusão não atinge apenas minorias tradicionais. O preconceito por idade, conhecido como etarismo, afeta homens e mulheres a partir dos 60 anos, que frequentemente enfrentam dificuldades para se manter ativos no mercado de trabalho. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) revelou que 63% dos profissionais acima dos 50 anos se sentem discriminados no ambiente corporativo.
Pedro Pitella, head de Pessoas & Cultura da Sanofi Brasil, destacou que o etarismo é um preconceito muitas vezes invisível, mas igualmente prejudicial. “Dizer a alguém que é muito jovem para uma promoção ou muito novo para liderar também é etarismo. Esse preconceito afeta profundamente a inclusão e a diversidade nas empresas.”
Inclusão dos Povos Indígenas no Canadá
O Canadá, conhecido por suas políticas inclusivas, tem implementado programas voltados à inclusão dos povos indígenas, uma prática ainda incipiente no Brasil. Mallory Yawnghwe, fundadora e co-CEO da Indigenous Box Inc., explicou como o Department of Crown-Indigenous Relations and Northern Affairs e o Indigenous Services Canada têm criado oportunidades para populações indígenas em áreas empresariais, educacionais e sociais.
“No Canadá, a população indígena cresce a uma taxa cinco vezes maior que a não-indígena, e as mulheres indígenas estão iniciando negócios a uma taxa nove vezes superior à média nacional. Isso não apenas fortalece a economia indígena, mas capacita a próxima geração, criando oportunidades onde antes eram escassas”, afirmou Yawnghwe.
O Fórum de Diversidade, Equidade e Inclusão, organizado pela Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CDEI) e co-organizado pelo Consulado Geral do Canadá em São Paulo, representa um espaço essencial de debate e conscientização. Mas é preciso ir além do discurso e avançar para a implementação de políticas que, de fato, promovam a inclusão em todos os níveis, ampliando o escopo das ações para alcançar e proteger as minorias que ainda enfrentam discriminação diariamente.