Depois de estrear em formato online na pandemia de covid-19, o musical Brenda Lee e o Palácio das Princesas, do Núcleo Experimental, ganha sua versão presencial. O espetáculo, que fica em cartaz até dia 05/02, no Centro Cultural São Paulo, conta a história da travesti Caetana, também conhecida como Brenda Lee, que se tornou um marco na luta por direitos LGBTQIA+.
O musical, que traz em cena seis atrizes transvestigêneres (Verónica Valenttino, Olivia Lopes, Marina Mathey, Tyller Antunes, Rafa Bebiano e Leona Jhovs) e um ator cisgênero (Fabio Redkowicz), fala sobre a luta das travestis nas ruas de São Paulo, a escassez de oportunidades que as impele à prostituição e sobre como foram apoiadas por Brenda, que acolheu em sua casa, as doentes de Aids numa época em que quase nada ainda se sabia sobre a doença.
O trabalho tem dramaturgia e letras de Fernanda Maia, direção e figurinos de Zé Henrique de Paula e música original e direção musical de Rafa Miranda. A orquestra é formada por Rafa Miranda (piano), Julia Passa (contrabaixo), Abner Paul (bateria) e Carlos Augusto (guitarra e violão). Espetáculo conta, ainda, com preparação de atores de Inês Aranha e coreografia de Gabriel Malo.
Brenda Lee, nascida em Pernambuco, em 1948, foi uma militante transexual dos direitos da população LGBTQIA+. Morando em São Paulo, comprou um sobrado no bairro do Bexiga e começou a acolher travestis portadoras do vírus HIV numa época em que quase nada se sabia sobre a epidemia e em que o preconceito condenava pessoas com HIV ao abandono e à solidão. A importância de Brenda Lee foi enorme, sua casa de apoio e acolhimento à população trans ficou conhecida como Palácio das Princesas, firmou convênios com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e com o Hospital Emílio Ribas e em conjunto, aprimoraram a forma de atender pacientes soropositivos, independente de gênero, sexo, orientação sexual e etnia. Aos 48 anos, em 28 de maio de 1996, no auge de seu projeto, Brenda foi assassinada, encontrada no interior de uma Kombi estacionada em um terreno baldio com tiros na região da boca e no peitoral. O crime teria sido motivado por um golpe financeiro cometido por um funcionário da casa. Em 2008, foi criado o “Prêmio Brenda Lee”, que contempla personalidades que se destacam na luta contra o HIV e prevenção da Aids.
“Contar a história do Palácio das Princesas é não só manter viva a memória de Brenda Lee, considerada o anjo da guarda da população LGBTQIA+ em São Paulo, mas retratar uma mulher trans protagonista em sua luta e ativismo. Com a criação deste musical, também pretendemos diversificar o grupo de artistas que trabalham com o Núcleo Experimental, empregando musicistas, atrizes, criativos e técnicos transexuais e transgêneros. Este projeto significa mais oportunidades para uma população discriminada no mercado de trabalho”, conta a dramaturga Fernanda Maia.
“O Núcleo Experimental tem consolidado uma obra em que o musical aparece não somente como diversão, mas como uma forma de arte que pode também refletir e discutir a sociedade. Um espetáculo composto por atrizes transvestigêneres, sobre uma importante travesti no panorama do surgimento da Aids e do fim da ditadura militar nos anos 80 significa colocar no centro do processo artístico criativo quem sempre esteve às margens. Fazer isso sob forma de musical significa atingir um tipo de público não habituado às histórias da população trans, contribuindo para a diminuição do apartheid social em que nos encontramos”.
A criação deste musical é uma continuidade das pesquisas do Núcleo Experimental sobre as possibilidades de interação entre música e teatro, consolida a trajetória do grupo como criador de musicais originais brasileiros e comemora os 10 anos da sua sede no bairro da Barra Funda.
SERVIÇO
Brenda Lee e o Palácio das Princesas
19/01 a 05/02
Quinta a sábado, às 20h e domingo, às 19h
Na Sala Jardel Filho
Classificação Indicativa: 12 anos
R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia entrada)
Retirada de ingressos 1 hora antes na bilheteria
É recomendado o uso de máscara