A história de amor e resistência de Kátia, uma mulher trans interpretada por Kika Sena, e Lena, uma mulher cis interpretada por Ana Flávia Cavalcanti, no episódio “Sismícas” do programa “Falas de Orgulho”, exibido no dia 26/06, durante a semana do Orgulho Internacional LGBTQIAPN+, na TV Globo, conta com a participação de Hela Santana, escritora negra, trans e baiana radicada em São Paulo, como parte da equipe de roteiristas.
Para Hela, a história deste episódio tem um significado profundo, pois além do romance, aborda temas e símbolos que se relacionam intimamente com sua própria jornada. Ela destaca o impacto de realizar mudanças constantes de residência para pessoas trans e LGBT em geral, muitas vezes por falta de apoio familiar. Hela vivenciou essa realidade após ser expulsa de casa, tendo que morar em diversos lugares involuntariamente. Essa experiência gera um trauma, pois é como se não pertencesse a lugar algum.
A antologia “Histórias (Im)possíveis” é apenas um dos projetos em que Hela está envolvida. Ela também faz parte da equipe de roteiristas da série “Encantados 2”, uma continuação da série de comédia que está atualmente sendo exibida na TV Globo. Essa produção possui uma equipe predominantemente negra, tanto na frente quanto atrás das câmeras. Além disso, Hela roteirizou o quadro “Mulheres Fantásticas” para o programa Fantástico e foi convidada para o FRAPA, o maior festival de roteiro da América Latina. Seu primeiro filme como roteirista, intitulado “Pajubá”, um documentário sobre pessoas trans, tem previsão de lançamento nos cinemas brasileiros em 2024.
Hela destaca que estamos vivendo em uma era de diversidade. Após concluir um curso de roteiro na FLUP, ela propôs o projeto documental “Pajubá”, voltado para o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ e para pessoas trans. Embora o projeto não tenha sido realizado pela emissora, está seguindo em frente. Hela convidou Gautier Lee para dirigir o filme e as gravações começarão no segundo semestre deste ano.
Para Hela Santana, a presença queer na indústria audiovisual traz uma sensação agridoce. Ela reconhece que há um aumento no reconhecimento e na ocupação de espaços, porém acredita que ainda há muito a percorrer. Cada geração promove mudanças até onde é possível. Ela tem esperanças de que sua geração continuará rompendo barreiras e consolidando espaços, pois as pessoas queer estão persistentemente presentes em todos os lugares. Apesar das dificuldades de se trabalhar com audiovisual no Brasil, há uma presença significativa de pessoas trans envolvidas na produção de conteúdo independente.
Das redes sociais para a TV
Hela Santana teve seu primeiro contato profissional com o audiovisual ao encantar o realizador Gil Baroni com sua resenha crítica sensível no Facebook sobre o EP da Jup do Bairro. Em seguida, trabalhou na comunicação do filme queer ‘Alice Júnior’, distribuído pela empresa Olhar. Durante a pandemia, as coisas pareciam impossíveis para ela, mas seu antigo sonho de trabalhar com audiovisual foi reavivado ao participar de laboratórios de roteiro e autores online.
Em 2020, Hela participou do LANANI – Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas para Audiovisual, dentro da programação do FLUP – Festa Literária das Periferias. Essa experiência foi um ponto de virada em sua carreira e foi fundamental para conquistar seu primeiro emprego como roteirista na TV Globo. Em 2021, ela escreveu para a série de animação “Os pequenos Crononautas”, em produção pela Bactéria Filmes, pouco antes de ser contratada pela TV Globo para integrar a equipe de roteiristas da antologia “Histórias (Im)possíveis” e da segunda temporada do sitcom “Encantado’s”.
Estar trabalhando com pessoas que ela estudou e admirou, como a cineasta Renata Martins e outras realizadoras inspiradoras como Grace Passô e Thais Fujinaga, foi uma reviravolta inesperada para Hela. Ela reconhece que pessoas pretas, como ela, têm poucas oportunidades, e para pessoas trans, as chances são ainda menores.