Nesta quinta-feira (19), terceiro e último dia da 4ª Conferência Internacional da Diversidade e Turismo LGBT, a spearker Fe Maidel, Diretora de Empregabilidade, Qualidade e Certificação da Câmara LGBT, participou do painel e empresas e falou sobre os desafios do empreendedorismo LGBT.
A comunidade LGBT corresponde a aproximadamente 10% da população brasileira, sendo aproximadamente 0,5% dessa população de pessoas transgênero. Fe aponta que esses cálculos são extremamente conservadores e essas parcelas da população não se veem ainda devidamente representadas em vários cenários sociais, como em empregos em agências bancárias, consultórios médicos e escritórios de advocacia.
Uma pesquisa publicada pelo Observatório sobre Empregabilidade LGBT, aponta que 82% dos empregados entrevistados acreditam que ainda falta muito para que as empresas o acolham, e de fato somente 32% se sentem acolhidos na empresa que trabalham atualmente ou que já trabalharam anteriormente.
A pesquisa aponta dificuldades vividas pelo público LGBT no ambiente de trabalho e mostra as necessidades de mudança e caminhos para uma maior inclusão. Já o estudo anual “Getting to Equal”, mostrou que 79% do público LGBT não se sente confortável para falar sobre sua sexualidade no ambiente de trabalho. A mesma pesquisa revela que 71% desses empregados, consideram importante ver pessoas como ela em cargos de liderança dentro da empresa.
“Ao ocupar um cargo de liderança e falar abertamente sobre sua sexualidade, os líderes LGBT vão ajudar a criar um ambiente de trabalho mais inclusivo”, ressaltou Fe.
Fe frisou que ser uma pessoa LGBT não é uma escolha, também não é uma doença mental, não é perversão sexual, nem doença debilitante ou contagiosa, ou um capricho. Ela destaca que o pode ser pensado como escolha eventualmente é o ato de tornar visível e público a questão da identidade de gênero ou da orientação sexual e que muitas vezes o fato de poder simplesmente expressar o que se é, pode representar uma enorme conquista para essa pessoa, tanto no nível subjetivo, quando no nível político e no dia-dia da pessoa.
“É importante deixar claro que o que determina a orientação sexual ou a identidade de gênero é a forma como a pessoa se vê, como ela se identifica, como sela se coloca no mundo, e não há nenhuma conclusão cientifica explicando porque alguém é homossexual ou transexual, e o mesmo vale para as pessoas cis gênero heterossexuais” disse.
Ela afirmou que para sociedade o fundamental é desenvolver pessoas de bem, visando uma estabilidade social e que nossa sociedade possui sistemas de crença e valores que tendem a estabelecer a heterossexualidade como o padrão saudável, normal, natural em várias esferas da vida e isso faz com que a sexualidade e gênero acabem numa função classificatória e discriminatória , estabelecendo padrões que geram segregação do que é considerado fora da norma.
“A sexualidade assim acaba exercendo uma função determinante na classificação do que é o bom e do que é o ruim na sociedade, a partir de pressões e vigilância pública nossa população e nossas lideranças sofrem ataques sistemáticos na tentativa de nos descreditar no cenário nacional a partir de um discurso que busca negar direitos essencialmente. Além disso, a gente sofre exclusão nas políticas públicas e no exercício de direitos fundamentais, como educação e saúde”, frisou Fe.
Ela destacou que a grande população LGBT que não consegue uma qualificação profissional, é devido ao enfrentamento de dificuldades durante a sua formação, como dificuldades com a família devido ao preconceito, a saída prematura de casa e da escola.
“Parte dessa população precisa de incentivos e talvez até de políticas públicas pra criar uma perspectiva, para ter estímulo para concluir sua formação educacional” disse.
Estima-se que a maior parte da população trans esteja no subemprego ou na prostituição, por não se sentirem acolhidas no mercado de trabalho ou por não terem tido formação adequada antes da vida adulta.
Fe informou que o isolamento social devido à pandemia de covid-19, gerou um impacto negativo maior na população LGBT, como o desemprego, de acordo com a ONU, por estarem mais vulneráveis a violência e outras violações dos direitos humanos. Por outro lado, existe uma parte significativa dessa população que é escolarizada, com graduação, pós-graduação e mesmo assim tem dificuldade de conseguir uma colocação a altura no mercado de trabalho devido ao preconceito.
“Empresas que atuam dessa forma acabam por evitar a inovação e geram poucas evoluções no negócio. A falta de diversidade, já se sabe, leva as empresas a fazerem as coisas da mesma maneira, pelo mesmo motivo, enquanto a diversidade leva ao aumento do engajamento, melhoria da produtividade, redução de conflito, melhora o clima organizacional e fortalece o potencial de trabalho da equipe” destacou Fe.
Fe diferenciou a empregabilidade do empreendedorismo, sendo a primeira a capacitação profissional, capacidade de conseguir e se manter no mercado de trabalho devido as suas qualificações e o empreendedorismo a capacidade de idealizar, coordenar e gerar negócios e serviços próprios. Dentro do quadro de empreendedorismo destacam-se dois modos no Brasil, o de oportunidade (61,80%) e necessidade (37,50). A maior parte do público LGBT encontra-se no empreendedorismo por necessidade, justamente por não conseguir oportunidades.
“Devido ao fato da empregabilidade ser difícil para parte significativa da comunidade LGBT, o empreendedorismo está muito presente no nosso cotidiano, muitas vezes, se manifestando pela ausência de possibilidade de geração de renda e ocupação, pela grande dificuldade de se conseguir colocação a altura da formação e qualificação no mercado de trabalho e devido principalmente ao preconceito” afirmou Fe.
Ela aponta que é necessário transformar essa vulnerabilidade em vantagem competitiva, reverter o ciclo preconceituoso e exclusivo da sociedade brasileira, para isso devem ser criadas estratégias como criar mentorias, que filtrem quem é empregável de quem é empreendedor, e assim investir no potencial de que tem realmente o viés empreendedor, identificar pontos fortes e fracos, trabalhá-los, e torná-lo empreendedores de sucesso, através de capacitações profissionais, pois o empreendedorismo não é só uma questão intuitiva. Para isso ela destaca que é fundamental o incentivo do apoio governamental e iniciativa privada, criando linhas de crédito e políticas que estimulem o desenvolvimento do empreendedorismo LGBT.
Matéria escrita por Júlia Moreira – Comitê da Conferência Internacional da Diversidade e do Turismo LGBT